Matriarcas do Samba: as Tias baianas e as Pastoras das Escolas de Samba

Monique Martins
3 min readMar 20, 2021

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O samba, desde o seu início, foi marcado pela atuação feminina, onde mulheres com reconhecida liderança religiosa e cultural em suas comunidades se encarregaram por organizar e ceder como espaço de encontro suas casas e terreiros, fazendo assim que o gênero surgisse entre a festa e o rito.

Essas mulheres matriarcas — em sua maioria baianas, passaram a ser chamadas de tias. Eram matriarcas de famílias unidas por laços étnicos e não necessariamente de sangue. Ocupando posições centrais nos terreiros e em outras esferas da vida pública, mulheres como Tia Ciata, Tia Amélia do Aragão, Tia Bebiana, Tia Perciliana de Iansã e Tia Raymunda, preservaram tradições africanas, atualizando suas memórias a partir de ações individuais e coletivas.

Saindo do eixo das baianas, a experiência das tias ganhou os subúrbios da cidade onde elas participaram na fundação de algumas das principais escolas de samba do Rio de Janeiro. Foi, por exemplo, na casa de tia Ester que os futuros fundadores da Portela, como Paulo da Portela, criaram o “Baianinhas de Oswaldo Cruz” em 1922, passo mais próximo para o que seria a Portela, em 1923. Igualmente, na década de 30, foi na casa de Tia Eulália e sua irmã Tia Maria do Jongo, que surgiu O Império Serrano. E assim, outras tias provenientes de diferentes lugares contribuíram com esta tradição e se tornaram matriarcas de outras escolas de samba.

Com o decorrer dos anos e a importância do trabalho dessas tias dentro da escola, surgiram assim as pastoras. Assim como as tias baianas que constituíam a base vocal nos ranchos cariocas das primeiras décadas do século XX, as pastoras também eram responsáveis por entoar o samba como cantiga em uma espécie de oração e decidir (ou não) os rumos de uma determinada composição para uma agremiação carnavalesca. Hoje, as Pastoras fazem parte da Velha Guarda e continuam a emprestar suas vozes aos sambas mais tradicionais de suas escolas. Um exemplo ilustre e emblemático é o da Portela, uma das primeiras escolas de samba a manter viva essa tradição e conferir notoriedade a quatro de suas Pastoras: Tia Surica, Neide Santana, Áurea Maria e Jane Carla.

Ao longo da história do samba, as mulheres seguiram evoluindo nos seus papéis, atuando de diversas formas dentro do gênero musical. Seja como compositoras, intérpretes, pastoras, baianas, passistas, madrinhas, carnavalescas, porta-estandartes ou até mesmo como operárias do samba (costureiras, aderecistas e etc), elas seguem tendo um papel central e de suma importância na história e cultura do samba.

Texto originalmente escrito para o RioMemóriaAção.

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Monique Martins
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Written by Monique Martins

Carioca de Madureira, apaixonada por samba e pelo Rio de Janeiro!

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